sexta-feira, 1 de março de 2013

CARTA EM SOLIDARIEDADE A TENDA DE UMBANDA LUZ DO ORIENTE


De antemão, este texto se trata de um tema bastante polêmico: O Direito de culto religioso e o direito dos animais à vida.


Contudo, tem-se aqui um objetivo mais especifico: o de prestar solidariedade à Tenda de Umbanda Luz Do Oriente, localizada nas proximidades de Belém-PA, que por um motivo muito óbvio, vem sofrendo diversos ataques de INTOLERÂNCIA e PERSEGUIÇÃO religiosa, sendo vitima de calúnia, difamação e injúria, bem como ataques diretos à dirigente da casa.

A razão dessa INTOLERÂNCIA? A defesa dos DIREITOS ANIMAIS em sua integralidade, inclusive oportunizando aos médiuns da casa o acesso a um debate profundo sobre as possibilidades de adoção do veganismo, por acreditar ser a postura mais ética diante da vida, promovendo resgate de animais abandonados e realizando seminários de direito animal, bem como, procurando manter a sua postura enfática no sentido de claramente se opor a praticas de imolação e sacrifício animal.

Por assumir uma postura honesta diante de sua comunidade acerca daquilo que acredita ser o mais justo e adequado aos seus preceitos espirituais, a TENDA LUZ DO ORIENTE, está sendo duramente difamada e agredida, e isso sim é intolerância e perseguição religiosa, por parte de algumas pessoas que teoricamente ‘trabalhariam’ contra a intolerância religiosa.

Uma casa de Umbanda não pode defender os animais? Não pode acreditar que os animais têm os mesmo direitos que nós? Ou não pode realizar oficinas de alimentação vegetariana em suas dependências? Não pode se opor a práticas que atentem contra a vida e sofrimento dos animais? Não pode?


DO DIREITO DE DEFENDER OS DIREITOS ANIMAIS:

Elenca a Constituição Federal de 1988 em seu Art. 5º, IV e VIII:

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
A Casa de Umbanda, Luz do Oriente, por manter uma postura de defesa dos direitos animais, vem sendo vitima de deboches, mentiras e ameaças de processos que nunca ocorrerão, pois são fundados em fatos que não ensejam processos ou fatos caluniosos, difamação e injuria. Recomendamos a leitura autoexplicativa deste artigo da CFB-88.

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política (...);
A livre manifestação de pensamento é um direito constitucionalmente garantido. A tenda de Umbanda Luz do Oriente tem direito de manifestar seus fundamentos e preceitos de acordo com o que entende ser a UMBANDA, independentemente do que outras Casas, também assim denominadas, costumam praticar. Se chegamos ao ponto em que uma instituição como a Luz do Oriente é agredida ou ameaçada simplesmente por defender e dizer o que entende ser sua própria instituição, então trata-se de perseguição e intolerância religiosa, ai sim, passível de processo.

Ressalte-se que todas as acusações, ameaças e perseguições contra a Luz do Oriente, surgiram a partir do instante em que a Tenda resolveu falar sobre direitos animais e se manifestar publicamente contra a imolação de animais. Sua atitude, qual seja, defender os animais, não é e nem nunca será errada, e muito menos, criminosa, intolerante ou discriminatória contra as outras religiões que mantém tais praticas.

Ameaçar, tolir, impedir, direcionar falsas acusações à uma Casa como a Luz do Oriente é de extrema irresponsabilidade e má-fé, principalmente porque a principal motivação dos maledicentes é a postura da Casa diante dos animais.

Divulgação do Seminário de Direitos Animais e alimentação vegeariana, realizado na Tenda
Na Tenda de Umbanda Luz do Oriente, defende-se como princípios: (1) O não sacrifício de animais; (2) A não cobrança dos serviços e sim o exercício da caridade.

Esses mesmos valores são defendidos por diversas Casas de Umbanda em todo o Brasil. Uma pesquisa simples na Wikipédia com a palavra “Umbanda”, nos trás uma definição bem próxima do que é defendido na Tenda. Tal defesa é feita da mesma forma que dezenas de outras casas Brasil afora fazem, tendo como fundamentos norteadores, sempre, os princípios transcritos abaixo, os quais foram retirados da Wikipédia, restando claro que a UMBANDA defendida na Luz do Oriente não tem nada a esconder:

1.O compromisso com "a manifestação do espírito para a caridade. O que significa que a ajuda ao próximo não ser cobrada em dinheiro ou valor de qualquer espécie.
2.Serviço social constante nos centros.
3.Magia branca. (*Deixando claro que não se trata de oposição de raças: raça branca e raça negra, e sim a uma referência de composição de cores, já que a cor branca é a soma e a síntese de todas as cores, enquanto a cor preta é a ausência de luz)
4.O não sacrifício de animais.

Disponível: http://pt.wikipedia.org/wiki/Umbanda#Cod.C3.B3_-_A_Capital_da_Feiti.C3.A7aria

Enfim, a conduta leviana por parte de algumas pessoas não pode prosperar, pois ninguém tem o direito de impedir que uma instituição religiosa como a Tenda de Umbanda Luz do Oriente, assim como tantas outras casas de Umbanda, expresse sua fé, suas convicções filosóficas e, porque não, suas opiniões sobre animais, meio ambiente e etc. Isso também é diversidade religiosa e temos que respeitar, principalmente porque a Tenda, para manter suas praticas religiosas, não precisa recorrer à matança ou exploração de animais e, muito menos, precisa violar qualquer lei deste país, como o fazem muitas Casas quando realizam imolação de animais (Art. 225, §1º, VII da CF e Art. 32 da ei 9.605/05).

DOS DIREITOS DOS ANIMAIS DE NÃO SEREM SACRIFICADOS EM RITUAL RELIGIOSO, EM FRIGORIFICOS, EM LABORATÓRIOS, EM RINHAS E ETC.

Notadamente, estamos vivenciando em nosso planeta uma segunda idade média, onde os valores andam totalmente invertidos. Hoje é possível ver-se alguém com a faca ensanguentada na mão, reclamando o seu direito de continuar esfaqueando. Vislumbramos o famoso “direito do agressor”: o direito que o agressor tem de agredir! E eu me pergunto: Quando vamos falar do direito das vítimas? Quando vamos falar do direito daquela mulher vitima de estupro, mas que no fim das contas acaba sendo culpada socialmente, pois estava usando um short curto? E o travesti espancado por ter a “ousadia” de aparecer? Quando vamos falar dos direitos dos animais? Daí, surge uma dúvida: devemos ser tolerantes diante da intolerância e da crueldade?

Todos os indivíduos citados são vitimas, e o DIREITO deve ser olhado sob a ótica deles e não sob a ótica de quem agride. Na ótica do machista, do racista, do homofóbico e do especista, as suas vitimas serão sempre coisas, objetos e suas vidas não representam nada diante dos seus desejos e crenças. Temos que transcender as aparências e olhar verdadeiramente nos olhos das vitimas. E pelo que pude perceber, através de um contato direto com a Tenda de Umbanda Luz do Oriente, naquele lugar estão fazendo justamente isso: olhando nos olhos das vitimas, transcendendo as aparências e focando no que há de mais importante: a Vida!

As pessoas tem todo direito de “PENSAR” e “FALAR” o que quiserem sobre qualquer assunto. Podem inclusive ser a favor de assassinato, violência, estupros e crueldade contra animais. Contudo, “FAZER” e agir de acordo com esse entendimento é a mais pura TIRANIA DO MAIS FORTE, é INTOLERÂNCIA e é ABUSO DE PODER. E pior, há aqueles mais “intolerantes” ainda, aqueles que, além de impor sua força, “fazendo” e “praticando”, ainda impõe a proibição de discutir sobre o assunto, impõe o silêncio daqueles que discordam de sua postura. Não aceitam criticas, sob o argumento de que a emissão de “opinião” contrária à deles é uma “imposição” ao direito que eles têm (direito de comer carne e outros produtos de origem animal, direito de sacrificar animais, direito de usar animais para entretenimento, etc.), ou seja, o direito de agredir. E novamente voltamos à falácia da “ofensa aos direitos do agressor”.

Em nossa sociedade, já abolimos diversas tradições cruéis e de exploração contra mulheres, negros, caboclos, índios, homossexuais e etc. Mas ainda nos resta avançar em direção à inclusão dos animais na esfera de proteção moral, pois a mesma motivação que ensejou a proteção e a dignificação dos grupos supracitados, foi justamente a capacidade desses indivíduos de sentir e sofrer, ou seja, sua senciência. Essa capacidade, de sentir e sofrer, também é absoluta em cada poro, guelra, escama, cartilagem embaixo do couro, pele, penas e nervos dos animais. Essa DOR não é exclusividade da espécie humana e sim de todos aqueles que pertencem ao reino animal. Dessa forma, cabe a nós, descermos do conveniente e cômodo pedestal que a filosofia antropocêntrica nos colocou e partir rumo à inclusão dos animais, naquilo que chamamos de direitos.

Deixo o entendimento de que a ÉTICA somente é chamada de ética, por ser RACIONAL, INCLUSIVA, UNIVERSAL, GERAL E INDISTINTA. Não existe “ética” apenas para alguns poucos, ela surge em socorro dos oprimidos, injustiçados, minorias, maltratados e daqueles que não podem se defender sozinhos. Quando essa suposta ética se aplica apenas para um segmento, isso não é ética e sim OPRESSÃO, LEI DO MAIS FORTE E IMPOSIÇÃO DO PODER.

E é isso que acontece contra os animais. O ser humano exclui os demais animais da esfera de proteção e se aproveita disso para se beneficiar de todo modo da carne, dos subprodutos de origem animal, do trabalho, do couro, das penas, da companhia dos animais, e etc. Essa relação doentia com os animais é sempre regada a muito sofrimento. Para manter a submissão dos animais nós, humanos, nos cercamos de diferentes dogmas que "justificam" o uso desses animais, como por exemplo - "Eles são inferiores", "Eles não sentem como nós", "Essa é a lei do mais forte", "Deus fez os animais para nos servirem", "Se o leão pode, eu também posso" ou "Os animais não tem alma", e etc. E amparado nesses dogmas, o humano usa e abusa de seu pretenso poder sobre os animais. O próprio ser humano julga a inferioridade dos animais e ele mesmo toma pra si o direito sobre a vida animal, agindo como os antigos senhores de escravos agiam com seus escravos. Dispondo sobre suas vidas e determinando o momento de sua morte, de maneira absoluta, como se os animais não tivessem propósitos próprios nesse planeta.


DO TOTAL RESPEITO ÀS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA

Com profundo respeito devocional aos nossos antepassados negros, índios e caboclos, dizemos com firmeza de espirito e consciência tranquila, que respeitamos a liberdade de culto e de fé, porém nada pode justificar a retirada da vida, a tortura e o suplicio dos animais.

Acreditamos que somos, sim, descendentes de povos e religiões que sacrificaram animais, mas que temos o direito de mudar de opinião, da mesma forma como esses mesmos antepassados também mudaram em algum momento, abrindo caminhos para várias outras conquistas na nossa sociedade atual. Acreditamos que temos a capacidade de superar nossa própria cultura e tradição em beneficio do coletivo e da benevolência aos nossos irmãos animais, pois em outros lugares, as mesmas religiões são praticadas sem que animais sejam mortos.

Acreditamos que não somos superiores a ninguém em nossa crença, mas também não somos inferiores, da mesma forma que os animais não são superiores e nem inferiores a nós, humanos.

Acreditamos que não basta superar o sacrifício de animais em rituais religiosos, temos que superar e perceber que a utilização de animais para outros fins (alimento, lazer, prazer, vestimenta, pesquisa, etc) também é “sacrifício”.

Nesse sentido, a Tenda de Umbanda Luz do Oriente, como uma religião heterodoxa brasileira, tem total admiração e apoio da causa pelos direitos animais para continuar seus trabalhos de conscientização acerca da vida animal junto a sua comunidade. E que sua Luz chegue a outras Casas, fazendo nascer a esperança para nossos irmãos animais, tão massacrados, torturados e renegados na sua própria condição de seres que sofrem.

Que esta tão corajosa Tenda, continue tendo força e ânimo para trabalhar por todos que sofrem, que precisam de um alento, que precisam de defesa e justiça, e por aqueles que imploram por misericórdia. Por humanos e não humanos (animais), que sua Fé lhe guie em direção à Luz, e que essa Luz possa também chegar aos animais.

Por Karla Ataide, Ativista pelos Direitos Animais e Meio Ambiente.



Nenhum comentário:

Postar um comentário